O Silicon Valley Bank- SVB e a gestão do risco das taxas de juros em economias emergentes
Parece que foi há muito tempo! Mas em março deste ano o Silicon Valley Bank- SVB colapsou! A mídia internacional deu grande destaque ao evento à época. E por qual razão? O SVB era o décimo sexto maior banco dos EUA antes do colapso, e ele havia se especializado (no mais famoso ecossistema de tecnologia do mundo, o Vale do Silício) em finanças e serviços financeiros para empresas startups apoiadas por capital de risco, em sua grande maioria de tecnologia.
E por que o SVB colapsou? O colapso se deu por múltiplas razões, incluindo a ausência de diversificação e uma clássica “corrida ao banco”, onde muitos correntistas retiram seus depósitos simultaneamente devido ao medo pela solvência do banco. Muitos depositantes eram empresas startups. Eles haviam depositado grandes quantidades em dinheiro de investidores, pelo fato de que tecnologia estava em alta demanda durante a pandemia.
O SVB investiu uma grande quantidade dos depósitos bancários em títulos de longo prazo do tesouro dos EUA, e em títulos de hipotecas imobiliárias. No entanto, os valores desses títulos caíram quando as taxas de juros aumentaram. Quando o FED (Banco Central dos EUA) aumentou as taxas de juros em 2022 para combater a inflação, o portfólio de títulos do banco começou a cair. No momento em que o SVB anunciou (em 08/03/2023) que estaria levantando US$ 1,7 bilhão, as pessoas ficaram alarmadas de que o banco estivesse sem capital, daí a corrida aos depósitos. Como resultado, as ações do banco caíram 60% um dia após o anúncio do levantamento de recursos.
Depois do socorro (por parte do governo estadunidense) aos depositantes do SVB e a outros poucos bancos com situações semelhantes, a atenção para a questão caiu na mesma proporção em que surgiu. No entanto, o fenômeno financeiro não foi esquecido, uma vez que o que ele estava refletindo era uma “inadequação” da gestão do risco da taxa de juros por parte dos bancos.
Em trabalho publicado recentemente pelo BIS — Bank of International Settlements, intitulado “Interest rate risk management by EME banks” (Gestão do risco da taxa de juros por bancos de economias emergentes — EME), seus autores identificaram que o case do SVB chamou a atenção para a vulnerabilidade dos bancos às maiores taxas de juros, e procuraram investigar os contrastes entre a gestão do risco da taxa de juros por bancos de economias emergentes -EMEs e a gestão por bancos de economias avançadas.
O que os autores constaram logo após o colapso do SVB é que os bancos estadunidenses, europeus e japoneses viram os preços de suas ações caírem. Em contraste, os preços das ações dos bancos nas EMEs se sustentaram bem. Isto foi um sinal de confiança dos investidores na gestão do risco das taxas de juros. Logo, eles se perguntaram: mas como eles gerenciam este risco?
Para os autores, do lado dos ativos, uma larga proporção de seus empréstimos tem taxas flutuantes ou maturidades de curto prazo. Do lado dos passivos, os bancos nas EMEs dependem fortemente de depósitos a prazo. Como resultado, as taxas de juros nos seus empréstimos e depósitos são reestabelecidas a uma frequência similar.
Em outras palavras, os bancos das EMEs gerenciam o impacto de mudanças nas taxas de juros ao minimizarem hiatos de reprecificação entre seus ativos e passivos. Isto é um modo efetivo de hedge (proteger) a net interest income (renda líquida de juros), o que representa o grosso da renda dos bancos das EMEs.
Os bancos também estão expostos ao risco da taxa de juros através de ganhos e perdas no valor dos seus títulos e outros ativos financeiros. À medida que a detenção de títulos aumenta, a atividade de hedging interest rate risk (proteção do risco da taxa de juros) se torna mais desafiadora. Os autores assinalam ainda que os derivativos de taxas de juros são uma ferramenta flexível para gerenciar este risco; entretanto, os bancos das EMEs fazem menos uso deles do que os bancos nas economias avançadas.
Em resumo, a renda líquida de juros representa uma alta proporção da renda total dos bancos nas EMEs, e eles gerenciam o impacto do risco da taxa de juros na sua renda líquida de juros ao sustentarem ativos e passivos que frequentemente são reprecificados. Mas à medida que os balanços se tornam mais complexos e os modelos de negócios mudam, proteger o impacto de mudanças nas taxas de juros sobre as fontes de renda sem juros e de riqueza líquida se torna algo mais desafiador. E como sugerem os autores do trabalho aqui citado, os derivativos de taxa de juros, por conseguinte, são uma ferramenta flexível para gerenciar o risco da taxa de juros, já que estes mercados são ainda pouco desenvolvidos nas EMEs.