Novas Formas Digitais do Dinheiro

Jose Carlos Cavalcanti
4 min readNov 4, 2019

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Na newsletter da semana passada, começamos a falar sobre novas formas de dinheiro, e citamos um trabalho do Fundo Monetário Internacional -FMI, cujo foco é, principalmente, na interação entre novas formas de dinheiro e o setor bancário; ou seja, na estabilidade financeira e na proteção ao consumidor. O trabalho oferece um framework analítico para categorizar novas moedas digitais, apontando para alguns dos seus riscos, e pensando sobre suas implicações.

Os autores do trabalho comparam e contrastam diferentes meios de pagamentos através das lentes de um framework conceitual simples. Eles acentuam quatro atributos dos meios de pagamento: tipo, valor, retaguarda/lastro, tecnologia. Estes atributos estão ilustrados na Figura 1 à frente, desdobrada nas Figuras 2 e 3.

O primeiro atributo que define um meio de pagamento é o tipo — seja ele uma alegação ou um objeto. O dinheiro para pagar por um cafezinho é um exemplo de um meio de pagamento baseado num objeto. A transação é estabelecida imediatamente tão logo as partes julgarem o objeto ser válido. Nenhuma troca de informação é necessária. A outra opção é transferir uma alegação sobre um valor existente em outro lugar. Este é o caso quando um cafezinho é pago com um cartão de débito. Passando o cartão dá-se instruções para transferir propriedade de uma alegação em ativos bancários de uma pessoa para outra.

O segundo atributo de meio de pagamento é o valor. Quando se classifica alegações, a questão relevante é quando o resgate da alegação em uma moeda é um valor fixo ou um valor variável. Alegações de valor fixo garantem resgates a um valor face pré-estabelecido denominado em uma unidade de conta. Para pagamentos, esta característica útil permite partes em uma transação facilmente concordarem sobre o valor da alegação que elas trocam na unidade de conta relevante.

O terceiro atributo de meio de pagamentos se aplica somente a alegações de valor fixo. A questão é se a garantia do resgate é lastreada pelo governo, ou depende meramente de práticas de negócios e estruturas legais colocadas pelo emissor. Neste último caso, chama-se um “lastro privado”.

O atributo final é tecnologia; ela é estabelecida de forma centralizada ou descentralizada? Transações alavancando tecnologias centralizadas seguem através de um servidor proprietário centralizado. Transações descentralizadas fazendo uso de decentralized ledger technologies- DLT (tecnologias de registro distribuído), ou blockchain Technologies, são estabelecidas entre vários servidores. Estes podem limitados a alguns poucos confiáveis (redes “permitidas”), ou abertas ao público (“sem permissão”). Instrumentos descentralizados podem se estender para além das fronteiras mais facilmente.

Estes diferentes meios de pagamentos nos ajudam a distinguir cinco diferentes tipos de meios de pagamentos: (1) dinheiro de bancos centrais; (2) criptomoedas; (3) b-money, que é atualmente emitido pelos bancos; (4) dinheiro eletrônico, ou e-money, oferecido por novos provedores do setor privado; e, (5) i-money, abreviação para dinheiro de investimento, emitido por fundos de investimento privado.

O mais reconhecido é o dinheiro dos bancos centrais na forma de cash — as notas em papel e em moedas metálicas que ainda carregamos em nossas carteiras. Sua contrapartida digital está sendo amplamente debatido no mundo sob a denominação de “central bank digital currency- CBDC”, ou simplesmente CBDC.

O outro meio de pagamento baseado em objeto é a criptomoeda. É denominada em sua própria unidade de conta, é criada “fora dos bancos”, e é emitida em uma blockchain, comumente do tipo “sem permissão”.

O mais espalhado uso de dinheiro baseado em alegação é o b-money, que é tipicamente cobre depósitos de bancos comerciais. O e-money está emergindo como um proeminente novo jogador na paisagem de pagamentos. E, finalmente, o i-money é um potencial novo meio de pagamento, apesar de ser um que pode ou não pode levantar vôo.

Como estas formas de meios de pagamentos vem se desenvolvendo mais ou menos ao mesmo tempo, e com nunces que estão sendo definidas por vários determinantes (avanço das tecnologias, regimes regulatórios, novos entrantes no mercado, competição, etc.), deixaremos para apontar mais especificidades destas novas formas digitais do dinheiro em outra oportunidade.

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre novas formais digitais do dinheiro, não hesite em nos contatar!

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