Modernização com Mudança: O que a Indústria de Serviços de TICCs está fazendo para Pernambuco

Jose Carlos Cavalcanti
4 min readJun 17, 2019

--

Talvez muitos dos leitores desta newsletter não saibam, mas há mais de 40 (quarenta) anos chegou ao Brasil um estudioso norte americano chamado Peter L. Eisenberg. Ele completou sua graduação em Filosofia na Yale University em 1961, o mestrado em Estudos Hispano-Americanos e Luso-Brasileiros na Stanford University em 1962, e o doutorado em História da América Latina na Columbia University em 1969.

De sua tese de doutorado resultou o livro intitulado “The Sugar Industry of Pernambuco, 1840–1910: Modernization Without Change”, Berkeley and Los Angeles, University of California Press, 1973, e que foi traduzido para o português com o título “Modernização Sem Mudança: A Indústria Açucareira em Pernambuco: 1840–1910”, Rio de Janeiro, Paz e Terra, publicado em 1977.

Neste livro (que repercutiu muito entre os intelectuais brasileiros), Eisenberg faz uma crítica à teoria da “modernização” , então em voga nos Estados Unidos, mostrando que os melhoramentos das técnicas de produção na indústria de açúcar em Pernambuco, e a reorganização do trabalho (a abolição da escravatura e a adoção de formas de trabalho livre), não acarretaram mudanças sociais profundas para o Nordeste.

Passados mais de quarenta anos da publicação deste livro, e também passados cerca de sessenta anos do início da “industrialização modernizadora” promovida pelo Estado no Nordeste (marcadamente com a criação do Banco do Nordeste, em 1952, e com a SUDENE, em 1959), a região Nordeste do Brasil mantém (ou tem intensificado) os mesmos sinais de desigualdade do passado: em 1960 o Nordeste tinha um PIB per capita igual a 47% do brasileiro, e as estimativas para 2019 apontam que a relação entre os dois produtos per capita, do Nordeste e do Brasil, declina para abaixo de 40%.

Apesar destes números sombrios, felizmente é possível argumentar que, mesmo neste cenário adverso, há um motivo para acreditar que pode haver uma “modernização com mudança” no Nordeste, pelo menos no que diz respeito ao desenvolvimento recente do Estado de Pernambuco. E aqui gostaríamos de citar o “efeito de transbordamento” da Indústria Serviços de TICCs — Tecnologias de Informação, Comunicação e Controle que tem se desenvolvido em Pernambuco.

Já tivemos a oportunidade de discorrer sobre como entendemos o desenvolvimento recente do que chamamos de o “Ecossistema de TICCs de Pernambuco” (ver as newsletters de 05–08–2018, 12–08–2018, 19–08–2018). O que trazemos de novidade nesta newsletter são evidências de que este ecossistema está contribuindo para uma nova modernização da economia pernambucana, modernização esta que difere substantivamente daquelas referidas acima, porque se baseia não no incentivo ao capital (físico), mas sim ao capital humano.

Como o editor desta newsletter argumentou na introdução ao livro “A Economia de Pernambuco no Limiar do Século XXI”(*), apesar de Pernambuco ter perdido posição relativa nos cenários nacional e regional, o fato de sua indústria também ter perdido posição relativa não significou uma involução no PIB do Estado, e o que contribuiu para isso foi o surgimento (e contribuição) de um pujante setor moderno de Serviços, que vão desde o segmento de TICCs, passando pelos serviços de saúde, educação, comunicação (marketing e propaganda), serviços profissionais (engenharia e advocacia, por exemplo), dentre outros.

O que estamos constatando hoje é que este setor (ou ecossistema) de TICCs está cada vez mais contribuindo para a modernização dos demais setores da economia pernambucana. E a evidência para demonstrar este “efeito de transbordamento”, vem de várias iniciativas das entidades representativas que conformam esse ecossistema, como a Sociedade SOFTEX-Recife, a ASSESPRO, o SEPROPE, o Núcleo de Gestão do Porto Digital, bem como de entidades como o Centro de Informática da UFPE, o Instituto Senai para Inovação em TICs — ISI, dentre outros.

O “transbordamento” aqui tratado é realizado através de ações gerais estruturadas pelo SOFTEX-Recife (e interações derivadas), tais como o Match Day, o Match Session, o Investor Day, o Going Out (mais de cinquenta eventos desta natureza já foram realizados desde 2017)(**), além daquelas específicas (tais como os do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife — C.E.S.A.R., que promove ações como o Summer Job). O Match Day, por exemplo, tem como objetivo juntar a DEMANDA por TIC (tecnologia da informação e comunicação) de empresas que precisam agregar novas tecnologias ou adquirir soluções inovadoras para os seus negócios, com a OFERTA de produtos e serviços de TIC, feitas por empresas maduras, startups ou institutos de pesquisa e universidades.

Através de iniciativas como estas do Match Day, empresas tradicionais não-TICCs de diversos setores (e de diversos tamanhos) da economia pernambucana, bem como empresas multinacionais que têm subsidiárias em Pernambuco, realizam um “matching” de interesses que tem contribuído tanto para a agregação de novos conhecimentos àquelas empresas, quanto para a geração de novas oportunidades para empresas do ecossistema de TICCs deste Estado.

Em resumo, Pernambuco atravessa uma “modernização silenciosa”, uma modernização que tem contado com o dinamismo de suas instituições, organizações e empresas, e que certamente está contribuindo para mudanças fundamentais para o seu futuro: um futuro marcado pela Era Digital!

Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a modernização com mudança de Pernambuco, não hesite em nos contatar!

(*) VERGOLINO, J. R.; MONTEIRO NETO, A. “A Economia de Pernambuco no Limiar do Século XXI: desafios e oportunidades para retomada do desenvolvimento”. Recife: Editora Bagaço, 2002.

(**) Somos gratos ao Executivo de Negócios do SOFTEX-Recife Augusto Galvão, pelos dados fornecidos.

--

--

No responses yet