IT Does Matter! (A TI Importa Sim) (1)
Em seu artigo de maio de 2003 para a Harvard Business Review, intitulado “IT Doesn´t Matter” (A TI Não Importa), Nicholas Carr examinou a evolução da tecnologia de informação nos negócios, e mostrou que ela segue um padrão surpreendentemente similar àquelas tecnologias do passado, tais como ferrovias e energia elétrica.
Por um breve período, à medida que elas estão sendo construídas na infraestrutura do comércio, essas “tecnologias infraestruturais”, como ele as denominou, abrem oportunidades para companhias visionárias ganharem grandes vantagens competitivas. Mas, à medida que sua disponibilidade aumenta, e seus custos caem — ao tempo em que elas se tornam ubíquas — elas se tornam insumos commodities. Elas podem ser mais essenciais do que nunca para a sociedade, mas do ponto de vista estratégico, elas se tornam invisíveis; elas não mais importam! As reações ao artigo (que depois virou livro) foram acaloradas (e ainda são), e Carr fez uma compilação de boa parte delas em sua página na web.
A tese que vamos defender aqui neste espaço é a de que a “TI Importa Sim” (IT Does Matter) tanto do ponto de vista estratégico quanto do ponto de vista do bem-estar da sociedade. Começamos tal defesa a partir do segundo aspecto.
Pode não ser da concordância dos leitores, mas uma das grandes contribuições do século 20 (reconhecida pelos principais economistas do mundo) foi o desenvolvimento das contas nacionais de renda e do produto (o conhecido Produto Interno Bruto-PIB). Passados mais de 70 anos de sua adoção (marcadamente nos EUA), os conceitos do PIB e das contas nacionais vêm sendo fortemente debatidos por entusiastas e detratores.
Olhando mais para os críticos das contas nacionais, eles argumentam que o PIB é uma medida da produção e não do bem-estar. E por que tal discussão é relevante? Primeiramente, medidas de bem-estar são necessárias para avaliar o potencial resultado de mudanças em políticas econômicas (tais como a reforma da previdência social, que estamos vivenciando no Brasil), e para avaliar o resultado depois das mudanças acontecerem. Em segundo lugar, conceitos que descrevem a distribuição de renda, tais como pobreza e desigualdade, caem no interior do escopo do bem-estar, mais do que na produção.
O problema advém do fato de que a mensuração do bem-estar, particularmente as atividades “não-mercado” (ou seja, atividades que não são sujeitas a transações monetárias, ou que não há fixação de preço), é sujeita a vários problemas. Um exemplo típico é o de analisar o uso de tempo “não-mercado” no crescimento explosivo da Internet. Como esse tempo é classificado como “household production” (produção familiar), ou tempo de lazer, o valor dos serviços gratuitos (“free goods”) na Internet é alocado como bem-estar, e não como produção. Ou seja, os serviços gratuitos na Internet estão fora do mercado e, portanto, do PIB.
As famílias são unidades econômicas que agem tanto como consumidores como produtores de bens e serviços. Mas as estatísticas nacionais só registram aqueles atos de consumo e de produção que são sujeitos a transações monetárias, deixando de fora o contexto do consumo e da produção que as famílias fazem por sua própria conta, ou por outras unidades econômicas, mas sem uma transação monetária de mercado.
Uma perspectiva contrastante foi apresentada pelo economista Hal Varian, Chief Economist do Alphabet, que argumentou que os serviços gratuitos deveriam ser incluídos no PIB. De acordo com Varian, a omissão destes serviços produz um “viés” na medição do PIB que pode estar associado com a desaceleração recente no crescimento da produtividade nos países.
Em recente artigo, David Byrne e Carol Corrado, ambos economistas do Banco Central dos EUA, desenvolvem um framework para medir serviços digitais que estão surgindo na esteira das inovações na entrega de conteúdo para consumidores. Ao considerarem que os “free goods” são serviços de capital gerados por estoques de bens de TI digitais dos consumidores conectados, o fluxo de tais serviços aumenta a medida existente de consumo pessoal no PIB. Ou seja, a contabilidade dessas inovações na entrega de conteúdo aos consumidores importa; em resumo, a TI importa para o PIB! Detalhes sobre este framework serão apontados na segunda parte desta newsletter!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre a importância estratégica da TI e seu impacto no bem-estar, não hesite em nos contatar!