Inteligência Artificial (IA) na Modelagem das Finanças Corporativas (1)

Jose Carlos Cavalcanti
3 min readFeb 3, 2025

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Estamos de volta para mais um ano de newsletters da Creativante. Já se vão 18 anos de discussões sobre temas que contribuem para o avanço do conhecimento da Economia a partir da tecnologia e da inovação. Neste ano vamos dedicar um pouco mais de atenção para as questões relativas às Finanças. Sendo assim, aqui vai mais uma contribuição nesta direção.

Desde o crash da Bolsa de Valores de Nova York em 1929 os modernos métodos e técnicas de avaliação de ativos ganharam momento. A análise do Fluxo de Caixa Descontado — FCD (Discounted Cash Flow — DCF em inglês), por exemplo, ganhou popularidade como um método de avaliação de ações. Os livros “The Theory of Interest”, de Irving Ficher (de 1930) e “The Theory of Investment Value”, de John Burr Williams (de 1938) expressaram o método FDC em termos econômicos.

A “Teoria dos Jogos” como o estudo da decisão estratégica, a partir do livro “Theory of Games and Economic Behavior”, de Oskar Morgenstern e John von Neumann (de 1944), introduziu o estudo de modelos matemáticos do conflito e cooperação entre tomadores de decisão racionais. Nos anos 1950s o Prof. Harry Markovittz introduziu a noção de Otimização de Portfólio com a Modern Portfolio Theory (MPT). Nos anos 1960s o “Capital Asset Pricing Model- CAPM” (Modelo de Precificação de Ativos de Capital) foi introduzido. E nos anos 1970s o modelo de Precificação de Opções, de Fisher Black e Myron Sholes ganhou importância na análise da securitização e dos derivativos como instrumentos de investimento.

Nos anos 1970s tivemos também o surgimento da “Efficient-Market Hyphotesis (EMH)”, a partir, fundamentalmente, dos trabalhos associados ao economista Eugene Fama. A EMH assevera que os preços dos ativos refletem toda a informação disponível. A EMH assume os preceitos da MPT da seguinte forma.

A MPT propõe que uma assembleia de vários ativos diferentes pode atingir um retorno maior, e de menor risco, do que qualquer ativo isolado. Apesar de seu sucesso, a MPT recebeu críticas. Uma delas é a de que ela se apoia em independência estatística das mudanças de preços dos ativos subjacentes. Isto torna impossíveis as predições de futuros movimentos de mercado.

Fontes de instabilidade e de risco de mercado são também assumidas como sendo exógenas sob MPT. Se isto fosse verdade, o sistema econômico convergiria para um estado estacionário (quando se assume, por exemplo, que um fluxo de caixa de uma empresa cresce a uma taxa constante indefinidamente), inteiramente determinado por fundamentos, e sem quaisquer oportunidades associadas para lucros especulativos consistentes na ausência de choques externos de preços. No entanto, a evidência empírica mostra que preços não são governados por fundamentos, mas também por forças de mercado não-lineares e interações de fatores os quais dão origem à flutuações endógenas.

Retornos de ativos são também assumidos serem distribuídos normalmente, mas isto omite (ou considera de probabilidades muito baixas) grandes retornos de outliers (valores discrepantes). Uma consequência disto, então, é que essas grandes mudanças de mercado ocorrem muito infrequentemente para serem motivo de preocupação. Sendo assim, modelos clássicos financeiros como a EMH, aceitam tais preceitos da MPT, de forma que eventos abruptos de mercado são omitidos em seus arcabouços.

Duas alternativas aos “efficient markets” evoluíram na literatura e no mercado: a Adaptive Market Hypothesis (AMH) e a Fractal Market Hypothesis (FMH). A primeira oferece uma avaliação biológica dos mercados financeiros — especificamente um arcabouço evolucionário em que os mercados (e os agentes de mercado: ativos e investidores) adaptam e evolvem dinamicamente através do tempo. A FMH relaxa o requisito de random walk (passeio aleatório) nos preços dos ativos da EMH. O relacionamento entre estas hipóteses competitivas, e alguns dos testes usados para determinar suas validades, são apresentados na Figura 1 à frente.

Na próxima newsletter veremos como o modelo CAPM evoluiu para a APT (Arbitrage Pricing Theory), e esta está evoluindo para a Artificial Intelligence Pricing Theory (AIPT), e este para o Artificial Intelligence Pricing Model (AIPM).

Figura 1 — Relacionamento entre EMH, FMH e AMH

Fonte: Karp, Adam & Gary Van Vuuren. “Investment Implications of the Fractal Market Hypothesis”. Annals of Financial Economics, Vol. 14, №1 (March 2019) World Scientific Publishing Company.

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