Innovation Accounting (Contabilidade da Inovação)
O termo Innovation Accounting (Contabilidade da Inovação) foi popularizado no seio do empreendedorismo contemporâneo a partir do livro de Eric Ries, intitulado “The Lean Startup” (A Startup Enxuta), publicado em 2011, e que foi resenhado aqui na newsletter de 05/08/2012. No entanto, o conceito em si já vinha sendo trabalhado por economistas norte-americanos já há algum tempo.
Carol Corrado, economista do Banco Central dos EUA, por exemplo, é uma das profissionais mais ativas no mundo na pesquisa do papel da inovação e seu impacto na economia (ver aqui sua extensa lista de publicações nesta área em parceria com outros profissionais ligados à temática).
Medir a inovação é uma tarefa desafiadora, tanto para pesquisadores quanto para os estatísticos que aferem contas nacionais. Segundo Corrado e co-autores, um enfoque simplista é aquele implícito em um modelo simples de crescimento macroeconômico onde os frutos da inovação são embutidos no conceito de produtividade, ou no jargão técnico, Produtividade Total dos Fatores — PTF (marcadamente capital e trabalho, e combinação destes fatores). Esse enfoque, no entanto, não é inteiramente satisfatório e tem sido amplamente criticado.
Na realidade a TFP é “uma medida de ignorância”, e até bem pouco tempo se considerava que pouco se sabia sobre as causas do aumento na produtividade. Avanços em pesquisas nesta área (ou seja, para atenuar a “extensão dessa ignorância”) têm apontado para quatro eixos de atençãopor parte dos especialistas. Primeiramente, considera-se hoje que as medidas do produto (PIB) real dependem tanto do produto nominal quanto de preços ajustados por qualidade, e ambos são desafiadores para medir quando há inovação e mudança estrutural em uma economia.
Em meados do século passado, os registros das instituições fornecedoras dos Censos Gerais da economia para setores fora da indústria manufatureira eram extremamente limitados. Hoje, tais instituições cobrem virtualmente todas as chamadas “indústrias dos serviços”. O desenvolvimento e implementação de bancos de dados ao nível das empresas, baseados em registros conectados de ondas de negócios (e pesquisas associadas), têm colocado uma luz na importância da formação de novos negócios (startups), e a entrada e a saída (em/de mercados) ao nível das empresas, como um canal através do qual a mudança na produtividade ocorre.
Obter medidas de preço que corretamente se ajustem pela mudança de qualidade, e pela introdução de novos bens, permanece uma assustadora tarefa, especialmente em setores passando por rápida mudança (e.g., dispositivos digitais), e produtos para os quais definir uma unidade de produto de qualidade constante é difícil (e.g., serviços na cloud ou semicondutores). No entanto, uma ampla literatura tem endereçado estas questões e ilustra o progresso que tem sido feito. A ênfase nos anos recentes tem sido em se as mudanças devidas à digitalização, e se algumas melhorias em bem-estar do consumidor, deveriam ser incluídas no PIB (tema que tratamos nas newsletters dos dias 04/08/2019 e 11/08/2019).
Em segundo lugar, medir o valor adicionado ao nível da indústria, da empresa, ou do estabelecimento (tal como medindo PTF), requer melhores fluxos medidos de trabalho e serviços de capital — incluindo preços de insumos ajustados por qualidade para insumos comprados — para isolar melhor os transbordamentos (i.e., retornos sociais) que deveriam ser parte da PTF. Esta tarefa engloba muitas das mesmas questões confrontadas em apurar acuradamente o produto real (e.g., desagregação relevante, e outras).
Para o capital tangível, um desafio chave é obter preços ajustados por qualidade para bens de capital passando por rápidas mudanças de qualidade. Para serviços comprados e capital intangível, mais questões definicionais fundamentais entram em ação também. E, tanto para capital intangível e alguns tipos de capital high-tech, as empresas produzem bens de capital por sua própria conta (mais do que as comprando no mercado), e estes novos meios de produção irão requerer novas técnicas de mensuração. Em cada um desses casos, muito da nova atividade é estimulada por atividade inovadora, a qual somente pode ser rastreada completamente se a medição econômica pode contabilizar cada um desses pedaços.
Em terceiro lugar, a importância da propriedade intelectual na capitalização de mercado das empresas com ações em bolsa, e do capital intangível no investimento geral tem crescido dramaticamente nas décadas recentes. Alguns tipos de capital intangível geralmente são capturados nas Contas Nacionais tanto como produtos como insumos, incluindo P&D, software, exploração mineral, e originais artísticos e literários. Pegar medidas acuradas de investimento e capital (tanto nominal quanto real) destes ativos é essencial para rastrear insumos para inovação. Alguns tipos de capital intangível — incluindo design industrial, capital organizacional, treinamento, e marca — tipicamente não são contados como investimento empresarial nas contas nacionais.
Estes ativos são extensivamente empregados pelas empresas e logo afetam o crescimento econômico, apesar de seu efeito no crescimento econômico medido ser confundido por sua omissão nas medidas de produto (não contado como investimento empresarial) e das medidas de insumos (não contados como capital produtivo). Pelo fato do capital intangível frequentemente ser conectado com a atividade inovadora, melhorar medidas de intangíveis irá facilitar um rastreamento mais completo da inovação. Além do mais, por conta dessas dificuldades de atividades de medição relacionadas aos intangíveis, é importante derivar alternativas de medidas de inovação, tais como contagens de marcas e inovação auto-reportada em adição às patentes.
Finalmente, como quarto eixo, e também da mesma forma com a fronteira do ativo relacionado ao capital intangível, a definição do PIB implicitamente considera algumas atividades em escopo, enquanto outras são consideradas fora de escopo. Por exemplo, a maioria da produção familiar não é contada no PIB porque o PIB largamente foca na atividade econômica mediada por mercados. Esta escolha pode criar desafios quando certas atividades mudam de famílias para atividades mediadas pelos mercados, ou de forma inversa. Por exemplo, considere um trabalhador que se torna um motorista do Uber. Algo de seu produto não é registrado à medida que ele sua família para a escola (atividade não-mercado). Alguma atividade é registrada como produto via dados de cartão de crédito quando ele conduz passageiros pagantes, mas seu insumo de capital não é medido porque ele usa um carro pessoal/familiar. Ou, o produto de uma pessoa de entrega de tempo parcial é registrado, mas devido às dificuldades de registrar horas e status de autônomo, o insumo de trabalho não é registrado. Similarmente, computadores pessoais, tablets, e smartphones têm amplificado o “estoque de capital doméstico”, e têm aumentado a produção doméstica, tanto por usar os dispositivos diretamente (comprando passagens aéreas a partir de casa, escrevendo entradas do Wikipedia), ou possibilitando um novo mercado onde previamente inexistia (compartilhamento de caronas). Esses exemplos iluminam a importância de pensar fortemente sobre o ativo apropriado e as fronteiras de atividades para o PIB, e como as fronteiras apropriadas devem mudar ao longo do tempo.
Em resumo, innovation accounting é uma área que vem conquistando crescente importância, e, ao lado do innovation framework, constituem o que podemos chamar de innovation management, segmento da inovação fundamental para a execução de qualquer innovation strategy!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre innovation accounting, não hesite em nos contatar!
Obs: Esta newsletter se beneficiou enormemente do livro “Measuring and Accounting for Innovation in the 21st Century”, publicado no site do National Bureau of Economic Research dos EUA.