FinTech: a Academia e a Realidade do Mercado

Jose Carlos Cavalcanti
3 min readNov 18, 2019

--

O termo FinTech conquistou grande popularidade nos dias atuais. Mas, como muitas outras novidades, envolveu muitas coisas e, igualmente, encobriu muitas outras. Como o nome sugere, o termo é a fusão de finanças e tecnologia. Qualquer pessoa mais experimentada sabe que a tecnologia sempre impactou a indústria financeira, e ao longo da história avanços tecnológicos mudaram a forma que a indústria operava. Um exemplo próximo foi a introdução das máquinas ATM — Automatic Teller Machine (os caixas eletrônicos) ou o uso das transferências por fio como inovações chave.

Logo, o que é tão especial sobre a atual “Revolução das FinTechs”? Esta foi a pergunta que se fizeram os economistas acadêmicos vinculados à The Review of Financial Studies, publicada pela Oxford University Press, vinculada à Oxford University na Inglaterra. As respostas são reveladoras.

Primeiramente, o passo no qual as novas tecnologias estão sendo testadas e introduzidas em finanças é muito mais rápido que antes. Mas, ainda mais importante, o aspecto único dessa revolução FinTech é que muito da mudança está acontecendo de fora da indústria financeira, à medida que jovens empresas startups e grandes empresas de tecnologia estabelecidas estão tentando disrupt (ameaçar) os incumbentes, introduzindo novos produtos e tecnologias, e provendo uma nova e significativa dose de competição. Para constatar isso, basta comparecer a uma conferência de FinTechs e ver a audiência largamente composta de pessoas nos seus vinte anos, para notar que há algo novo no ar!

Como colocado por Itay Goldstein, Wei Jiang, e G. Andrew Karolyi em seu texto introdutório a uma edição recente daquela revista, o escopo da atividade em FinTech começou com pagamentos móveis, transferências de moeda, empréstimos peer-to-peer, crowdfunding, e tem se espalhado para novos mundos, como blockchain, cryptocurrencies e robo-investing. Novas empresas startup de tecnologia estão correndo para preencher hiatos na experiência do consumidor deixados pelas empresas tradicionais em todas essas dimensões.

Contudo, apontam aqueles autores, apesar da emergência das inovações FinTech mundo afora, é espantoso perceber que pouca pesquisa tem sido publicada até a data (maio de 2019, mês de publicação do estudo aqui resenhado) nas principais revistas de finanças. Esta escassez de pesquisa publicada em um tópico que tem claramente explodido na indústria de serviços financeiros em todo o mundo, foi reconhecida pelo comitê editorial de The Review of Financial Studies em 2016. E o volume aqui referido reflete o resultado de um planejado “empurrão” editorial para estimular a pesquisa em FinTech.

Este atraso relativo da Academia em tratar de tão importante assunto é, no entanto, contrastado com a enxurrada de trabalhos que estão surgindo no mercado, na indústria de serviços financeiros, bem como pelas autoridades encarregadas de estabelecer os marcos normativos e regulatórios deste setor. E aqui podemos trazer tanto evidências internacionais quanto nacionais.

Do ponto de vista internacional, é possível mencionar um recente trabalho do Fundo Monetário Internacional, intitulado “The Rise of Digital Money”, resenhado recentemente aqui na newsletter de 03–11–2019. Outro conjunto interessante de trabalhos é aquele proporcionado pelo BIS- Bank for International Settlements, tais como o intitulado “Investigating the impact of global stablecoins”. No Brasil também é possível registrar vários trabalhos, tais como aqueles publicados pelo governo brasileiro, tal como aquele intitulado “Fintechs e Sandbox no Brasil”, e muitos outros que estão surgindo a partir de escritórios de advogados, empresas de consultoria, bem como pelas próprias novas empresas do novo ecossistema de FinTechs brasileiro.

Em resumo, infelizmente o que se constata é que a Academia se encontra defasada em termos do que está ocorrendo na indústria de serviços financeiros (em termos nacionais e internacionais), o que dificulta sensivelmente a construção de análises e sínteses aprofundadas, as quais poderiam contribuir para um progresso mais equilibrado das inovações neste dinâmico campo dos negócios.

Se sua empresa, organização e instituição deseja saber mais sobre FinTechs, não hesite em nos contatar!

--

--

No responses yet