Carta Creativante 2024/2025
Tal como fizemos em 2023, neste final de ano estamos publicando a “Carta Creativante 2024/2025”. A partir de uma perspectiva econômica, nas linhas que se seguem tecemos alguns breves comentários sobre o estado da economia global para, em seguida, colocarmos nossa visão sobre a economia brasileira.
Assim como em 2023, tivemos um predomínio das questões da Geopolítica internacional sobre aquelas da Economia. Registramos o segundo ano da invasão da Rússia à Ucrânia, e terminamos com o agravamento da crise no Oriente Médio com a queda do regime na Síria (com a deposição do Presidente Bashar al-Assad), e suas consequências para o Iran e, por extensão, para a Rússia, seu então principal aliado.
Em relação à atual ordem internacional, tivemos a surpreendente eleição do ex-Presidente Donald Trump para mais quatro anos na Casa Branca, com maioria no voto popular e nas duas casas legislativas. Muito tem sido especulado sobre sua acachapante vitória, particularmente pelo fato de que suas principais bandeiras políticas representam um reforço ao nacionalismo, o que pouco contribui para um convívio mais moderado com os principais polos econômicos do globo (especialmente a China).
No que diz respeito ao panorama econômico internacional, tendemos a ficar atentos às previsões do Prof. Kenneth Rogoff, da Harvard University. Em artigo recente para o site Project Syndicate, intitulado “Will the Second Trump Boom Go Bust?”(O Segundo Boom de Trump Fracassará?), Rogoff aponta que Trump propôs tarifas de até 60% sobre os produtos chineses, tarifas bem mais radicais do que aquelas que ele implementou no seu primeiro mandato. Mesmo se aquelas tarifas forem eventualmente negociadas para baixo para 20%, elas ainda iriam alimentar inflação e prejudicar os americanos de renda baixa e média, que se beneficiaram enormemente do acesso às cadeias de suprimento asiáticas ao longo de anos.
Além do mais, observa Rogoff, a dívida pública dos EUA cresceu significativamente desde o primeiro termo de Trump, com suas próprias políticas de impostos e de respostas à pandemia da COVID-19, guiando mais do aumento, mesmo antes do Presidente Joe Biden assumir o cargo. As taxas de jutos reais globais, que pareciam permanecer em baixos históricos em 2016, subiram rapidamente e estão agora bem mais altas do que elas estavam em 2013, quando o ex-Secretário do Tesouro Lawrence Summers advertiu, famosamente, sobre a “estagnação secular” (fenômeno que apontamos na Carta Creativante 2023/2024), e previu que as taxas permaneceriam ultrabaixas por um futuro previsível (fato que não ocorreu).
Na realidade a economia estadunidense enfrentará fortes ventos contrários de fora que, enquanto não se espera disparem uma recessão, podem pesar sobre o crescimento futuro. Seguindo o colapso da bolha do mercado imobiliário chinês, a economia chinesa não irá provavelmente guiar o, grosseiramente, um-terço do crescimento do PIB nominal global. Apesar da vasta influência do governo chinês, Rogoff assinala que os problemas financeiros do país têm apenas uma mera semelhança da crise do Japão nos anos 1990s, os quais levaram décadas para serem superados.
Concluindo, pergunta Rogoff: haverá um segundo “Trump Boom?”. É possível, salienta o economista, mas ele não virá tão fácil desta vez!
Caminhando, finalmente, para a economia brasileira, somos forçados a repetir o que frisamos na Carta Creativante 2023/2024, quando apoiamos a tese de que infelizmente “não aprendemos com os erros”! E para corroborar tal posicionamento, repetimos o convite à leitura do livro “Para Não esquecer: Políticas Públicas que Empobrecem o Brasil”, livro organizado pelo economista Marcos Mendes, que pode ser baixado gratuitamente na Amazon.com. Este livro é uma verdadeira contribuição para o entendimento da evolução das políticas públicas no Brasil, focando o que deu errado, e o que temos que evitar, tarefa fundamental para acertarmos o passo para um futuro melhor.
Neste prisma sobre o que dá errado, somos impelidos a reproduzir o editorial do Brazil Journal de 16/12/2024, intitulado “Esta crise é uma escolha pública”. Nas próprias palavras do editorial: “Nesta gradual, incessante e desnecessária destruição de riqueza por que passa o Brasil do Governo Lula, duas coisas chamam a atenção. Primeiro, a suposta incapacidade do Planalto de entender que sua política fiscal é um tiro na cara, pois vai gerar apenas inflação e juros altos na segunda metade do mandato presidencial”. E a segunda coisa a chamar a atenção é: “… é a falta de lideranças no Congresso e na sociedade capazes de agir como os adultos na sala.”.
As notas positivas com que gostaríamos de finalizar esta Carta são duas. A primeira diz respeito a outro, e mais recente, livro do economista Marcos Mendes acima citado, intitulado “Políticas públicas bem-sucedidas: Lições para promover o bem comum”, em que o autor aponta para casos concretos de políticas públicas bem-sucedidas para mostrar a viabilidade delas se forem colocadas em prática através de muito esforço, organização e disciplina.
A segunda nota positiva diz respeito a uma contribuição que sintetiza, de alguma forma, nossa experiência nestes 17 (dezessete) anos de newsletters da Creativante. Trata-se de nossa “visão informacionista do avanço (progresso) socioeconômico”, série em 6 partes iniciada a partir da newsletter Nem liberalismo nem desenvolvimentismo: uma visão informacionista do avanço (ou progresso) socioeconômico (Parte 1), publicada em 11/11/2024 e finalizada em 16/12/2024. Mesmo que ainda num formato embrionário, esperamos que tal visão represente um norte para um maior entendimento dos desafios e oportunidades das atuais economia e sociedade digitais.
Em resumo, temos muito a fazer pela frente! No balanço geral, existem grandes desafios a serem vencidos, mas também há grandes oportunidades a serem abraçadas!
Logo, gostaríamos mais uma vez de manifestar aos nossos leitores, clientes, parceiros e colaboradores, nossos sinceros votos de Muita Saúde, Boas Festas, e um 2025 repleto de oportunidades!