A Economia não está em “transformação digital”: ela já foi transformada!
As pessoas que estavam vivendo na segunda metade do século 18 e início do século 19 não tinham a menor ideia de que estavam vivenciando uma “Revolução Industrial”. Este termo foi popularizado pela primeira vez pelo historiador econômico Arnold Toynbee (1853–83) para descrever o desenvolvimento econômico da Grã-Bretanha entre 1760 e 1840 (alguns a chamam também de “Primeira Revolução Industrial”). Na prática ela transformou amplamente as sociedades rurais e agrárias da Europa e dos EUA em sociedades baseadas na indústria, e concentradas em zonas urbanas.
Na segunda metade do século 20, e nas primeiras décadas deste novo milênio passamos a ler e ouvir muito sobre uma “nova revolução”, mas sem um termo definido. Passamos a conhecer os termos de sociedade e economia “pós-industriais”, “da informação”, “do conhecimento”, “baseada em dados”, “da era digital”, dentre outros. Mas um termo ganhou mais recentemente grande visibilidade: o da “Transformação Digital”. E muita coisa passou a ser escrita e defendida sobre ele como um conceito-guia para as “próximas etapas” do “avanço” da sociedade e da economia.
Nesta newsletter argumentamos (ao que tudo indica pela primeira vez) que, pelo menos no que diz respeito à Economia (como área do conhecimento que trata da alocação de recursos tanto escassos quanto abundantes para a satisfação dos infinitos desejos da sociedade), a tão falada e decantada “transformação digital” já ocorreu! Em outras palavras, a Economia já foi transformada, e já estamos vivenciando a “Era Digital”!
Um dos primeiros passos para reconhecer que já deixamos de viver em “Economias Industriais”, e que já nos tornamos “Economias Digitais”, é esquecermos de uma vez por todas a forma como nos acostumamos a reconhecer os “setores” que compõem a Economia. Durante anos fixamos em nossas mentes (e arraigamos nas nossas estatísticas oficiais) que os setores econômicos são os seguintes: Primário (Agropecuária); Secundário (Indústria de Transformação, Construção), Terciário (Serviços, Comércio, Transportes, Administração Pública), e, em alguns casos (como na Comunidade Europeia), Quaternário (Educação e outros)(ver Figura 1 à frente).
Com o advento das redes de computadores, e com o florescimento comercial da Internet, começamos a ver o crescimento da “Economia de Redes”, interligando pessoas, empresas, atividades e mercados. Aqui no Brasil, no âmbito das atividades do I Comitê Gestor da Internet no Brasil, desde 1995 fomos capazes de identificar a Economia de Redes em camadas intrinsicamente relacionadas: numa primeira camada (basilar) temos as infraestruturas que permitem que as redes existam (satélites, cabos de fibra ótica, roteadores, etc.). No topo desta camada, temos os serviços que tais infraestruturas permitem construir (transferência de arquivos digitais, correio eletrônico, e mais recentemente os serviços OTT-Over The Top, bem representadas pelas atividades como as do WhatsApp, dentre outros). E finalmente, no topo dos serviços, temos a camada das aplicações voltadas para atividades específicas (aplicações para o comércio, saúde, finanças, etc.). Mais recentemente, agregamos a esta forma de ver a economia das redes, a camada fundacional dos recursos.
Desta forma, as redes de computadores e a Internet permitiram fazer a transição da Economia Industrial para a Economia Digital através da Economia de Redes (ver Figura 2 à frente). Logo, ao invés de pensarmos a economia atual como ainda formada por uma estrutura estratificada, em setores isolados (setores primário, secundário, terciário e quaternário), devemos visualizar e reconhecer nossas atuais economias como segmentos de aplicações EM REDE, que se apoiam em serviços, infraestruturas e recursos possibilitados hoje pelo desenvolvimento pervasivo das novas tecnologias, inovações e modelos de negócios da Era Digital, tal como demonstrado na Figura 3 a seguir.
São várias as questões que ainda precisam ser melhor entendidas nesta “economia transformada”. Uma delas é a contínua e crescente evolução de produtos em serviços intensivos em conhecimento, e, de modo particular como os PICs- produtos inteligentes conectados estão mudando a competição e as empresas. Outra questão é a crescente conformação de “Trindades Essenciais” (Ecossistemas + Plataformas + Arquiteturas) no novo desenho dos mercados da Economia Digital (sobre Trindades Essenciais, ver newsletters dos dias 17/06/2012 e de 25/11/2018). Finalmente, precisamos entender em que medida a divisão do mundo em três seguintes tipos de “Economia Digitais” afetará os negócios daqui para frente: a) o American-style techno-libertarianism; b) o Chinese digital authoritarianism; e c) o European Union’s regulatory approach!
Se sua empresa, organização ou instituição deseja saber mais sobre como a atual Economia Digital se estrutura e se comporta, não hesite em nos contatar!
OBS: Para esta newsletter nos valemos fortemente das figuras da empresa holandesa The METISFiles.